sexta-feira, 25 de maio de 2012

Dor, Tumor e Pausa

Madrugada fria, cama quente  um resfriado intenso pra me incomodar
O que incomoda é a grande arma contra tudo o que acomoda
Mas dessa vez não foi a gripe o incomodo que me vomitou da cama
Quais são as melhores coisas do mundo?
Não pretendo chegar naquele ponto essencial na filosofia de Camus
Mas já posso ao menos aceitar essa ideia como uma saída válida
O bigodudo alemão me diz que não é a saída mais inteligente
Mas ainda assim, uma saída. De emergência?
Sim, sempre há um tom dramático em minhas palavras
Talvez eu nem seja o poeta que projeto em mim mesmo
Mas ao menos posso me sentir ator...
Minha trágica mente silenciando, é sintoma de uma dor sem fim
Minha trágica mente conceituando idéias de segunda categoria,
Só uma tentativa de remediar a dor...
Chega uma hora que a morfina não faz mais efeito ante a um câncer
Assim também sucedeu com meus conceitos.
Me entregar a dor não foi uma questão filosófica
Foi total falta de opção finda a eficácia dos remédios.
Migalhas pra um estômago faminto...
Assim me pareceram os remédios quando a dor se agravou
Mas quando o fim parecia iminente e a inércia era o único caminho possível
A própria dor, tal qual uma quimioterapia intelectual
Começou a atenuar a si mesma...
Dor e tumor foram deixando de rimar aqui dentro de mim
Ela atacando, ele sumindo e numa harmonia de fim de música sem final
Foram diminuindo a intensidade até silenciar...

Pausa

É aqui que estou no grande disco compacto da vida...
O que vem agora?
Talvez eu possa até escolher uma faixa.
Apertar a tecla de embaralhar...
Mas o fato é que estou preso ao meu próprio disco...
Quantas músicas ainda existem?
Não vou embaralhar!
Quero a próxima canção como uma carta ordenada numa paciência
Sou curinga, olho do alto e entendo sozinho o jogo todo
Quero o caos em meio a ordem que eu ditar
Olhos abertos
Morte
Dor
Remédio
Câncer
Música
Ordem
Caos
Faz sentido?
Pouco importa. Sobrevivi, e estou mais forte
Encarei e zombei da morte
Vês? acima e abaixo rimando...
Só uma trágica mente falando...

6 comentários:

  1. "[...]eu não sei bem a resposta
    da pergunta que fazia,
    se não vale mais saltar
    fora da ponte e da vida
    nem conheço essa resposta,
    se quer mesmo que lhe diga
    é difícil defender,
    só com palavras, a vida,
    ainda mais quando ela é
    esta que vê, severina
    mas se responder não pude
    à pergunta que fazia,
    ela, a vida, a respondeu
    com sua presença viva.

    E não há melhor resposta
    que o espetáculo da vida:
    vê-la desfiar seu fio,
    que também se chama vida,
    ver a fábrica que ela mesma,
    teimosamente, se fabrica,
    vê-la brotar como há pouco
    em nova vida explodida
    mesmo quando é assim pequena
    a explosão, como a ocorrida
    como a de há pouco, franzina
    mesmo quando é a explosão
    de uma vida severina. "

    (João Cabral de Melo Neto)

    To aguardando aquela visita ainda... Tim.

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    1. Ontem rolou a visita... Rara oportunidade de olhar a vida de cima e pensar... Um mergulho profundo, mesmo sem saber nadar... Vida que anda tão rara na fútil e desapercebida maneira de viver em sociedade... "a vida é tão rara".
      Ontem ela me apareceu em meio a nossa filosofia. Severina e bela a um só tempo...

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  2. "É aqui que estou no grande disco compacto da vida...
    O que vem agora?"
    Agora vem aquela parte que a gente vive, que a gente chora, que a gente odeia e ama, que a gente sofre, cada qual no seu Universo, cada Universo com a sua plenitude que, de tão bela, chega a doer.
    A dor? Existe, firme, pulsante, viva, com sede de vida todos os dias...Esse é o preço? Talvez....se "todo bônus tem um ônus", acredito que, no fim desse ônus sempre há um bônus, completando o ciclo, o "eterno retorno" da vida, de tantas vidas.

    Força, como sempre teve!

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    1. É nesse eterno retorno do mesmo, que a grande guerra de opostos move o mundo. Não quero jazer nos dois confortáveis sofás diante de mim. Um do otimismo, e outro do pessimismo... Sigo em pé, na luta. Nem um, nem outro... Que meu conforto esteja em me manter firme em minha luta trágica!
      Valeu Andrea!

      Força Sempre.

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  3. Nossa, amei o seu texto! Aparte a parte trágica, que corta a carne, sangra e arde, a criativa vai que é uma beleza! Parabéns!
    Claudia Demier

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    1. Teu comentário me assustou aqui.
      Quase sempre penso estar isolado nestas palavras que vez ou outra surgem com maior ou menor intensidade. Quando essa solitária necessidade de escrever gera algo aqui, pouquíssimos amigos pegam carona nas minhas palavras largadas...
      Escrevi isto depois de assistir ao filme nacional "as melhores coisas do mundo". Entre os personagens, um deles escrevia sobre si num blog...
      O lado trágico, deveria gerar alegria a partir da dor, como postulava Heráclito na Grécia antiga, ou o Nietzsche, no Alemanha do século XIX. Acho que aqui a alegria permaneceu em semente... Querendo brotar a partir da terra escura...
      Obrigado! Fiquei muito feliz com seu comentário. Acho que ele ajudou enfim a alegria mostrar seus verdes brotinhos sob a terra onde ela escondida, esperava a hora de aparecer.
      Abraço!

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